quinta-feira, 7 de maio de 2009

A Ética - Uma Metamorfose Ambulante!

Resumo

A caminhada metamórfica da Ética da posição de reflexão subjetiva ao protagonista em ao Moral e o preferência para a metamorfose expressa na música de Raul Seixas.

 Palavras-chave: Ética, moral, metamorfose, corpo, habitar.

SUMÁRIO

 Introdução:

1. A preferência pela metamorfose! 6

2.  O fim da velha opinião! 7

3. A Metamorfose tem limites?. 8

Conclusão: 8

 Introdução:

Nas últimas décadas do século XX, a sociedade passou por transformações inimagináveis. A década de sessenta, marcada campanha do “Ban the Bomb” pela mini-saia e pela liberdade sexual, foi apenas o começo. Movimentos de protesto desafiaram, como nunca antes, os velhos padrões, obrigando uma nova atitude frente aos problemas do mundo.  Irene Pinto Pardelha[1] afirma que filosofo contemporâneo Maurice Merleau-Ponty[2] vê a necessidade de uma nova filosofia:

Uma filosofia que assuma o papel expressivo e antepredicativo da percepção na busca de uma verdade que, de forma alguma, se esgota no trabalho de objectivação de uma consciência que renuncia ao corpo e ao mundo em vista de um conhecimento claro e distinto das coisas.

A noção de percepção em Merleau-Ponty pretende fugir tanto ao desejo [...]que ignora o corpo em proveito da capacidade de decisão de um sujeito acósmico, que habitaria um tempo e um espaço abstractos,[...] como ao esforço empirista que a reduziria a um estado meramente neuro-fisiológico, [...] passivo face às influências activas de um mundo orgânico ...

 

Homem de sua geração, Raul Seixas[3] expressa em canção o ensejo de mudança e o descontentamento com o “status quo” ao dizer:

“Prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.”

Contra o pano de fundo da sociedade em transformação examinemos paralelos entre a letra dessa música e o conceito de Corpo-Próprio[4] no pensamento do Merleau-Ponty e um possível limite de ser uma Metamorfose Ambulante.

1. A preferência pela metamorfose!

No dicionário se encontra, entre outras, as seguintes definições de metamorfose: “Transformação de um ser em outro [...] mudança notável na fortuna, no estado, no caráter de uma pessoa”. Porém, estamos mais familiares com a aplicação desse termo em relação ao mundo animal, quem é que não lembra os esforços da professora a ensinar esse “palavrão” ao falar da transformação da larva em pupa, da pupa em linda borboleta? Graças a esse esforço, entendemos o conceito e o processo de metamorfose, compreendemos que embora tenham aparência e formato diferentes a larva, a pupa e a borboleta mantêm a mesma “essência”.

Raul Seixas, e seus contemporâneos ensejavam pela transformação, pela mudança notável, na essência da sociedade, uma metamorfose tão radical como a proposta na figura abaixo:


Figura 1 Metamorforse

Fonte: http://ogindungo.blogspot.com/2007/04/metamorforse.html

 Merleau-Ponty ao desenvolver o conceito do Corpo-Próprio demonstra que a Ética passou por uma verdadeira metamorfose, uma transformação de essência, ao deixar de lado a postura reflexiva em relação à moral para ser protagonista na formação da moral que regra a vida da sociedade.

2.  O fim da velha opinião!

Enquanto a Moral[5] estabelece as normas de comportamento da sociedade o lugar tradicional da Ética[6] no pensamento filosófico é a da reflexão subjetiva, uma análise dos efeitos da moral sem se quer tentar modificá-lo. Merleau-Ponty desafia o mundo filosófico a encarar uma metamorfose. O conceito do Corpo-próprio propõe uma Ética que antecede a Moral que a estabelece, que não tem medo de se repensar no ritmo das mudanças na sociedade e oferecer uma nova moral para responder a cada situação. É uma não aceitação das velhas opiniões, dos velhos conceitos da velha maneira de encarar as coisas. Da mesma maneira que a larva se transforma em borboleta a Moral surge da Ética, cada metamorfose um novo jeito de “habitar” de ser “Corpo”, de se expressar no mundo. Oneide Alves Martins afirma que:

A noção de corpo próprio concebido por Merleau-Ponty torna possível compreender o corpo não como um mero organismo cujas funções podem ser explicadas por leis causais, mas como corpo sujeito, sendo ao mesmo tempo sujeito pensante e sujeito corporal, constituindo o paradoxo do ser no mundo[7]

 

Raul Seixas a se ver livre para “viver” como metamorfose ambulante, sem medo das reações da sociedade e capaz de ter outras opiniões “sobre o que é o amor sobre o que eu nem sei quem sou” questionava e propôs mudanças a conceitos filosóficos milenares, formadas por pensadores como Platão.

 3. A Metamorfose tem limites?

Raul Seixas canta: “Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante [...] Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes”. Proferidos por um candidato eleito a cargo público, para defender uma mudança de ideologia, essas palavras tomam outro significado, pelo menos na opinião da imprensa!

Leonencio Nossa - Agencia Estado: 

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta quarta-feira, 5, um mea-culpa sobre a CPMF e disse ser uma "metamorfose ambulante" e não ter medo de mudar de opinião. Lula lembrou que no debate de criação da CPMF, em governos passados, chegou a vir a Brasília para convencer parlamentares petistas a não votarem a favor do imposto. "Prefiro ser uma metamorfose ambulante. Mudar como as coisas mudam", disse, citando letra de música do compositor Raul Seixas. "Não tenho a dureza do manifesto de um partido comunista ortodoxo", completou. [8] 

 Lucas Figueiredo:

Cinco anos depois de assumir pela primeira vez a presidência da República, Lula e o PT mudaram. E não foi para melhor.

Lula, no entanto, não se avexa. Afinal, como ele mesmo explicou, é uma metamorfose ambulante. Pobre Raul Seixas, deve ter se revirado na tumba ao ver sua música ser usada para justificar a transformação de um homem bom e honesto em político omisso e conivente com um certo tipo de bandalheira que desonra o país há 500 anos. Mas Raulzito sempre soube também o que o ouro de tolo faz com os fracos.[9]

 Paira então a pergunta - Será que há limites às mudanças, as metamorfoses, que podem acontecer antes de tamanha descaracterização de pensamento obriga o objeto que passou pela mudança a aceitar ter se incorporado numa nova ideologia, em vez de ter passado por simples mudança de comportamento (moral) dentro de uma ética (Corpo-próprio) existente?

Cabe a reflexão filosófica a tarefa de definir o seguinte: Se quando a metamorfose resulta na adoção de uma nova ética em oposição direta à posição anterior, e, portanto, implicar em mudança de morada (Corpo Próprio), o comportamento (moral) correspondente não deveria ser a mudança de endereço de fato e a notificação apropriada para assegurar a chegada de correspondência!

Conclusão:

A insegurança em relação ao futuro, provocada pela 2ª Guerra mundial, o holocausto, a guerra fria e a guerra de Vietnã desencadearam o questionamento dos anos sessenta.  A aceitação cega das “velhas opiniões” deu lugar a uma busca para um jeito melhor, mais justo, de habitar na sociedade humana.  O movimento das “metamorfoses ambulantes” que começou como o grito da juventude de uma geração continua no esforço de homens e mulheres dispostos a defender aos que continuam a sofrer preconceito e são tratados de forma injusta pela sociedade motivada pelo consumismo e interesse próprio.

 A verdadeira transformação na sociedade acontece graças aos pensadores, artistas, políticos e cidadãos comuns que tem a coragem de serem metamorfoses ambulantes, desafiar o “status quo” e caminhar juntos de forma solidária para mudar a realidade injusta vivenciada por tantas pessoas.

Bibliografia:

1.      FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda - O Dicionário da Língua Portuguesa – 3ª ed. 1999 - Novo Aurélio Século XXI. 

2.      FIGUEIREDO, Lucas - Metamorfose Ambulante http://www.rollingstone.com.br/edicoes/16/textos/1580/ Acesso em 04/10/2008

3.      LALANDE, André – Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia – São Paulo, Editora Martins Fontes 3ªed.1999.

4.      LEONENCIO NOSSA - Agencia Estado  http://www.estadao.com.br/nacional/not_nac90920,0.htm – Acesso em 04/10/2008 

5.      MARTINS, Oneide Alves – Merleau-Ponty – Corpo e Linguagem a fala como modalidade de expressão – Universidade São Judas Tadeu - SP - 2006  http://www.usjt.br/biblioteca/mono_disser/mono_diss/011.pdf - Acesso em 05/10/2008

 6.      PARDELHA, Irene Pinto – Percepção em Maurice Merleau-Ponty - (Bolseira de Investigação FCT/FSE). http://filosofiadaarte.no.sapo.pt/percepcaomp.htm.Acesso em 04/10/2008 

7.      SEIXAS, Raul – Metamorfose Ambulante  http://letras.terra.com.br/raul-seixas          Acesso em 04/10/2008

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[1] Percepção em Maurice Merleau-Ponty por Irene Pinto Pardelha (Bolseira de Investigação FCT/FSE)

[2] MERLEAU-PONTY, Maurice (1908-1961) Filosofo Francês formado em Filosofia pelo ENS, lecionou nos liceus de Beauvais e Chartes e foi professor no ENS. Participou da resistência a Nazismo e em 1952 assumiu a Cátedra de L. Lavelle, sucessor de Bergson no Collège de France. Conhecido por ser filosofo mais representante da fenomenologia.

[3] Raul Santos Seixas (1945-1989) Cantor e compositor e ator brasileiro nascido em Salvador, Bahia que foi pioneiro no desenvolvimento do “rock and roll” nacional.

[4] Corpo – Todo objeto material constituído pela nossa percepção, quer dizer, todo grupo de qualidades que representamos como estável, independente de nós e situado no espaço. LALANDE. Corpo-próprio - hábito primordial a partir do qual construímos outros hábitos.

[5] éthos – valores morais, um código de comportamento para a sociedade.

[6] êthos – moradia – caráter, índole natural.

[7] Corpo e Linguagem a fala como modalidade de expressão – Universidade São Judas Tadeu - SP - 2006

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